A história do álbum Água de Santo resulta de dois momentos marcantes na
minha trajetória.
O primeiro, e que influenciou quase a metade do repertório registrado neste
trabalho, deve-se a duas pessoas que mudaram a minha vida para sempre: a
minha companheira e produtora Juliette Sabrina, a quem dedico duas músicas,
Juli Sá, em ritmo de ijexá, e Fulô da Serra, em baião; e o meu filho, William
Ramón, cujo nascimento inspirou três temas: Samba pro Will; Meu Pequeno,
em chamamé, e, ainda, o arrasta pé Junino, já que ele é de junho.
Já o segundo momento interferiu e ainda interfere enquanto escrevo estas
linhas em todo o processo de produção do registro de áudio do disco e de sua
produção executiva. Em março de 2020, tendo acabado de planejar os
primeiros ensaios para circular o material com o grupo, entramos em
isolamento por causa desta interminável pandemia. Isto resultou num processo
bastante desafiador, pois, sem poder ensaiar e nem apresentar o material,
tivemos que montar os arranjos de casa e passá-los no estúdio, fazendo
ajustes ou mudanças antes de gravar os takes.
Embora este não seja o caminho mais comum na música instrumental, no que
diz respeito ao processo de gravação, acredito que a situação gerou um disco
orgânico e maduro. Com o trabalho excelente do produtor musical Antonio
Flores e com o talento e profissionalismo de Dani Vargas, Miguel Tejera e Max
Garcia, fizemos deste trabalho o melhor representante da minha intenção
musical, atualmente: diversidade e ecletismo, com os pés nas raízes
brasileiras, mas com ares modernos, colocando o violino no universo da
música popular improvisada, com propriedade e autenticidade, sem apelos,
respeitando a música como arte temporal.
Espero, com todo meu coração, que vocês gostem desta obra...
Felipe Karam